Em um cenário global, programas anticorrupção estruturados incorporam mecanismos que asseguram a prestação de contas e a conformidade com normas éticas. Tais programas frequentemente incluem auditorias rigorosas, controle interno robusto e canais de denúncia efetivos. Estes mecanismos não apenas ajudam a prevenir a fraude e a corrupção, mas também a assegurar que as práticas empresariais estejam alinhadas com os princípios de sustentabilidade.

Nos últimos anos, a intersecção entre sustentabilidade e programas anticorrupção tem se destacado como um ponto crucial na agenda global de governança corporativa e desenvolvimento sustentável. O fenômeno é particularmente relevante no Brasil, um país onde a incidência de fraudes corporativas e escândalos envolvendo corrupção têm sido um obstáculo significativo ao progresso econômico e social.

O Brasil tem feito progressos notáveis na incorporação de princípios de sustentabilidade nas práticas empresariais, refletindo uma crescente conscientização sobre a necessidade de alinhamento com os padrões internacionais. A Lei Anticorrupção (Lei n. 12.846/2013) estabelece diretrizes para a responsabilidade das empresas em relação à corrupção, incentivando a adoção de programas de compliance e práticas de governança que são consonantes com os princípios de sustentabilidade.

A fraude e a corrupção, são fenômenos perniciosos e insidiosos que permeiam os mais variados setores da sociedade, representa uma ameaça significativa à estabilidade econômica e à justiça social; devem ser combatidos. No entanto, um dos maiores desafios é harmonizar o compliance interno das companhias com sua cadeia de valor. O conceito de cadeia de valor, formulado por Michael Porter, refere-se ao conjunto de atividades que uma empresa realiza para agregar valor a seus produtos ou serviços, desde a aquisição de matérias-primas até a entrega final ao consumidor.
A corrupção, ao impactar processos e distorcer resultados, compromete a credibilidade e a confiança que clientes, parceiros e investidores depositam nas organizações. Empresas que mantêm elevados padrões de ética e transparência, mesmo diante de adversidades, conseguem não apenas evitar penalidades legais, mas também fortalecer sua posição no mercado. A reputação positiva, resultante da integridade, atua como um diferencial competitivo, favorecendo a fidelização de clientes e a atração de investimentos.

Neste sentido, o impulsionamento da integridade na cadeia de valor das empresas é crucial para a construção de uma reputação sólida e confiável e contribui para a eficácia das práticas de gestão de riscos. Quando a integridade é um princípio norteador, as empresas são mais propensas a adotar medidas rigorosas para monitorar e mitigar riscos associados à corrupção, como a implementação de auditorias internas, códigos de conduta e treinamentos sobre ética. Esses mecanismos não apenas previnem práticas corruptas, mas também asseguram que qualquer violação identificada seja tratada de forma adequada e tempestiva.

Entretanto, eis a questão que emerge: o desafio da ingerência sobre a cadeia de valor. Isso porque para se ter um compliance eficaz dentro das companhias é necessário um trabalho contínuo de revisitação dos conceitos com conscientização dos diversos atores e processos envolvidos no programa. E o que ocorre quando estendemos esta prática para o fornecedor que já tenha um programa próprio de compliance ou simplesmente está alinhado a outros programas de compliance de outros clientes?

Bom, vale lembrar que a integridade se destaca como um princípio fundamental na gestão da gestão da cadeia de valor das organizações, pois ela não é meramente um valor moral, mas sim um elemento essencial para a eficiência e sustentabilidade das operações empresariais.

Em um ambiente de negócios onde a corrupção é prevalente, empresas podem se ver forçadas a comprometer seus princípios éticos para manter relações comerciais, resultando em um ciclo vicioso de práticas corruptas. As que adotam uma postura firme em relação à integridade, ao contrário, estabelecem parcerias com outras organizações que compartilham valores semelhantes, promovendo um ecossistema empresarial mais saudável e ético. Tais parcerias são fundamentais para a inovação e para a criação de valor mútuo, sustentando a competitividade e o crescimento a longo prazo.

Disponível originalmente no Estadão. Publicado na CompliancePME em 2 de setembro de 2024