Por Aurora Barros*

O filme Ainda Estou Aqui (2023) retrata uma história impactante baseada em eventos reais, abordando temas como violência política, ameaças à democracia e a importância da memória para evitar que erros do passado se repitam. A obra expõe os perigos do extremismo e da falta de controle institucional, destacando como a ausência de mecanismos de integridade e transparência pode levar a situações de abuso de poder e repressão.

Nesse contexto, o Compliance surge como um elemento essencial para a manutenção das instituições democráticas. Suas diretrizes garantem que governos, empresas e organizações atuem dentro dos princípios éticos e legais, prevenindo corrupção, autoritarismo e violações de direitos fundamentais.

O fortalecimento desses mecanismos evita que eventos semelhantes aos retratados no filme voltem a ocorrer, protegendo a sociedade e consolidando o Estado de Direito.

O contexto do filme: memória e advertência

Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional apresenta uma narrativa que alerta sobre os riscos da erosão democrática, enfatizando a importância da memória coletiva para que sociedades não repitam ciclos de violência e opressão. O filme evidencia como discursos autoritários podem levar a perseguições, censuras e graves violações dos direitos humanos.

A falta de controles institucionais permite que estruturas de poder se tornem arbitrárias, minando a participação popular e o respeito às leis. Essa degradação institucional é um dos principais fatores que levam ao retrocesso democrático, reforçando a necessidade de mecanismos como o Compliance, que atuam na prevenção de abusos e na garantia da transparência na gestão pública e privada.

O papel do compliance na proteção da democracia

O Compliance é um conjunto de políticas e práticas voltadas para assegurar que organizações e instituições ajam em conformidade com leis, regulamentos e padrões éticos. No contexto democrático, ele é essencial para evitar irregularidades e garantir que mecanismos de controle impeçam abusos de poder. Entre seus principais objetivos, destacam-se:

1. Prevenção da Corrupção e da Impunidade

Um dos pilares do Compliance é o combate à corrupção, que enfraquece as instituições e compromete a governança pública e corporativa. No filme, observamos como a ausência de mecanismos de integridade favorece práticas abusivas e a perpetuação da violência. Políticas anticorrupção, auditorias regulares e transparência na gestão pública são essenciais para evitar que interesses escusos deturpem o funcionamento das instituições.

2. Promoção da Transparência e Accountability

A transparência é um princípio fundamental para evitar retrocessos democráticos. Sistemas de Compliance garantem que decisões políticas e empresariais sejam tomadas de forma clara e acessível, permitindo que a sociedade fiscalize e cobre responsabilidades. O filme demonstra que a falta de transparência abre brechas para manipulação e opressão, evidenciando a necessidade de mecanismos que garantam o acesso à informação e a prestação de contas.

3. Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Individuais

Em regimes autoritários ou cenários de fragilidade institucional, os direitos humanos são frequentemente violados. O Compliance assegura que empresas e governos atuem de acordo com normas nacionais e internacionais de direitos humanos, impedindo práticas abusivas e promovendo a inclusão social. Medidas como códigos de conduta e canais de denúncia são essenciais para evitar perseguições e garantir a proteção da população.

4. Fortalecimento das Instituições Democráticas

As democracias se sustentam em instituições sólidas e confiáveis. Programas de Compliance reforçam a ética e a legalidade dentro de órgãos públicos e privados, promovendo uma cultura de responsabilidade e respeito às normas democráticas. Dessa forma, evita-se que crises institucionais enfraqueçam o Estado de Direito e abram espaço para regimes autoritários.

Lições do Filme e o Caminho para o Futuro

Ainda Estou Aqui não apenas narra uma história marcante, mas também serve como um alerta sobre os perigos da negligência institucional. A implementação de políticas de Compliance é uma ferramenta poderosa para evitar que abusos retratados no filme se repitam, garantindo que governos, empresas e demais entidades ajam dentro dos princípios democráticos.

A construção de uma sociedade mais justa e democrática depende da participação ativa da população na fiscalização de seus representantes, bem como da adoção de medidas preventivas que garantam transparência, ética e responsabilidade. Somente por meio do fortalecimento das instituições e da consolidação de uma cultura de integridade será possível evitar retrocessos e garantir um futuro mais seguro e democrático para todos.

*Aurora Barros é advogada, Auditora-líder em Compliance, Membro de OCCA Olinda Creative Community Action, Coordenadora e Professora MBA em Compliance e ESG e Mestra em indústrias Criativas

Disponível originalmente no site Movimento Econômico. Publicado na CompliancePME em 13 de março de 2025