As empresas brasileiras precisam ir além de oferecer produtos para a comunidade LGBTQIA+ e também olhar como estão suas práticas de governança interna em relação à diversidade. O alerta foi feito pelo advogado e conselheiro de administração Robert Juenemann, nesta terça, durante Live do Valor que inaugurou a programação especial da Semana do Orgulho LGBTQIA+, que o Valor realiza em parceria de conteúdo com o Valor Social, a área de responsabilidade social do grupo Globo.
Juenemann, de 55 anos, é gay e já foi conselheiro fiscal da Vale, AES Tietê, JBS, entre outras e hoje é conselheiro suplente da Petrobras e Eletrobras. Segundo ele, ainda falta representatividade de membros da comunidade LGBTQIA+ nos conselhos de administração. “Vemos uma evolução nas empresas quando se trata da inclusão da mulher ou de negros nos conselhos mas membros gays ainda são raros”, disse ele, que contou já ter sofrido constrangimento e desconforto por assumir sua orientação sexual no trabalho.
Para o conselheiro, a comunidade LGBTQIA+ nem sempre é visível e muitos não assumem sua orientação por medo de terem suas carreiras prejudicadas o que, para Juenemann, é um sinal de que a empresa não está tratando do tema internamente como devia. Ele diz que não é o único conselheiro gay do país mas se outros não saem do armário é porque a governança em relação a este tema ainda não está em um nível adequado para que mais pessoas revelem sua orientação de forma clara.
Segundo ele, é comum a prática do “pinkwashing”, termo utilizado para descrever as empresas que usam de marketing de diversidade para vender produtos mas não adota práticas inclusivas internamente. “O consumidor tem que ficar atento para ver essas empresas que fazem propagandas possuem uma gestão alinhada com a imagem que vende, se possuem conselheiros ou membros da alta administração vindas da comunidade LGBTQIA+”, disse. “Apesar de esta ser uma pauta sem volta, são poucas as empresas alinhadas”.
Ele conta que muitas vezes os valorescrenças julgadas corretas em relação a interações com outras pessoas ou empresas. pessoais são confundidos com a estratégia da empresa. “Já ouvi muita gente dizer ‘eu não tenho nada contra gays’. Mas a empresa tem que ter estratégias definidas para tratar desse tema. Muitos líderes se dizem comprometidos com a diversidade mas os funcionários não sentem, então tem algo errado”, disse.
Juenemann explica que o conselheiro LGBTQIA+ tem que ser buscado e valorizado da mesma forma que o conselheiro mulher e o conselheiro negro. Segundo ele, todos contribuem com recortes da sociedade para uma análise estruturada de situações estratégicas, de como a empresa precisa se posicionar. “Fazemos parte de grupos específicos da sociedade que agregam valor e deveríamos ser desejados”, disse, “porque no fim das contas geramos lucro para as empresas”.
Para o conselheiro, as empresas precisam tratar da diversidade LGBTQIA+ nos conselhos, tratar do assunto como sendo relevante para a companhia e a partir daí construir políticas inclusivas e um ambiente seguro e acolhedor para seus funcionários. “As grandes empresas tem um papel fundamental na redução da carga de preconceito, na beligerância com grupos de diversidade, e deixar para trás a ideia de que prefiro ter filho morto que filho gay. Essas realidades precisam ser alteradas”, afirma.
Originalmente publicada no Valor