Nesta terça-feira (15), um tribunal da França ordenou que a IKEA pague uma multa de € 1 milhão (US$ 1,2 milhão) por espionar sua equipe francesa, depois de a maior varejista de móveis do mundo ter sido considerada culpada por coletar e armazenar indevidamente dados sobre seus colaboradores.

A sucursal francesa do Grupo Ingka, que possui a maioria das lojas IKEA em todo o mundo, foi acusada de espionagem dos seus trabalhadores e de alguns clientes ao longo de vários anos.

O grupo de móveis, que reconheceu a existência de algumas práticas impróprias, foi acusado de violar a privacidade dos funcionários ao revisar os registros de suas contas bancárias e, às vezes, usar nomes falsos para escrever relatórios sobre os empregados.

Representantes dos trabalhadores disseram que a informação foi usada para atingir líderes sindicais em alguns casos ou usada para dar vantagem à IKEA em disputas com clientes, depois que a empresa pesquisou dados sobre as finanças das pessoas e até mesmo quais carros elas dirigiam. Também foi descoberto que a companhia pagou para ter acesso a arquivos da polícia.

Os promotores vinham pressionando por uma multa de € 2 milhões. Advogados do sindicato francês CGT e vários indivíduos em busca de indenização disseram que o valor final não era grande, mas saudaram o resultado.

“É o simbolismo que importa”, disse Solene Debarre, advogada que representa a CGT.

A empresa disse que “estava revisando a decisão do tribunal para ver se outras medidas eram necessárias, depois de tomar medidas para erradicar as táticas de vigilância”.

“A IKEA Retail France condenou veementemente as práticas, pediu desculpas e implementou um grande plano de ação para evitar que isso aconteça novamente”, disse o grupo Ingka.

A IKEA emprega cerca de 10.000 pessoas na França, seu terceiro maior mercado depois da Alemanha e dos Estados Unidos, e tem experimentado novos formatos lá, incluindo uma loja lançada em 2019 no coração de Paris.

É mais conhecida por suas vastas lojas de autoatendimento fora da cidade, mas muitos compradores mudaram para a Internet, especialmente durante os bloqueios por conta da pandemia, quando a demanda por móveis de escritório, potes de comida e produtos de cozinha cresceu fortemente.

O lucro operacional do grupo Ingka no ano até o final de agosto de 2020 caiu, prejudicado pelo fechamento de lojas durante a crise do coronavírus, embora tenha projetado uma recuperação.

Multas

O ex-presidente-executivo da empresa na França, Jean-Louis Baillot, foi considerado culpado no caso e condenado a dois anos de prisão. Os juízes o multaram em € 50.000 por armazenar dados pessoais de funcionários.

As acusações se concentraram no período de 2009 a 2012, embora os promotores tenham afirmado que as táticas de espionagem começaram no início dos anos 2000.

No total, 15 pessoas enfrentaram acusações no julgamento.

Dois dos acusados ??foram considerados inocentes de todas as acusações contra eles, incluindo um policial, e Stefan Vanoverbeke, que dirigiu a IKEA na França de 2010 a 2015 e ainda ocupa um cargo sênior nas operações de varejo do grupo.

Outros foram inocentados de algumas acusações, como a divulgação sistemática de informações confidenciais, mas foram considerados culpados de outras, incluindo a obtenção ilegal de dados pessoais.

As sanções variaram de multa de € 5 mil para um ex-gerente de recursos humanos a várias penas de prisão.

A IKEA demitiu vários gerentes e reformulou sua política interna depois que as alegações vieram à tona em 2012.

A empresa sueca negou por muito tempo a criação de um sistema de espionagem generalizado e foi absolvida na terça-feira por violar sistematicamente dados pessoais.

A IKEA opera através de um sistema de franquia. O Grupo Ingka é o principal franqueado do proprietário da marca Inter IKEA Group.

Notícia publicada originalmente na CNN Brasil.

Publicado na CompliancePME em 15 de junho de 2021